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sábado, 12 de junho de 2010

Ludicidade na periferia

Trabalho em uma escola na periferia de São Paulo. Uma escola municipal cuja clientela, como se diz , é carente. Talvez na idéia utópica que se faz de educação e de escola, a escola deveria ser uma ilha de felicidade ali no meio... Já que lá deveria acontecer um encontro da comunidade, buscando um só objetivo. Também na medida em que ali as “nossas” crianças estão aprendendo a ler e a escrever. Eu fico em uma sala de 1° ano. Sou aluna-pesquisadora do Projeto Ler e Escrever e como faz parte do meu papel, observo e analiso atentamente tudo o que acontece dentro e fora da sala com as crianças da turma. Algo que me incomoda é a falta do brincar. Eles praticamente não têm tempo para brincar, apenas 15 minutos no intervalo e duas aulas de 40 minutos por semana no parque. Não tem jogos na sala de aula, nem brincadeiras, nem educativos e nem não educativos. Mas afinal, quais as brincadeiras ou jogos que nós, educadores, deveríamos proporcionar? Apenas educativos? Como um jogo pode ser educativo, ou seja, ajudar no desenvolvimento das crianças?

Segundo Brougère um brinquedo não pode ser considerado educativo de forma geral, ele só pode receber essa qualidade quando a partir dele se faz uma construção que o torne educativo. O que ele insiste em dizer é que por si só um brinquedo não pode ser educativo apenas porque na caixa dele está escrito isso, é preciso que tenha um adulto que faça um uso cultural e socializador dos brinquedos.

Muitos brinquedos são taxados de educativos apenas por ter conteúdos da escola. Entre eles podemos destacar o dominó. Mas se não falarmos que ele é educativo, ele não vai fazer com que quem brinca deixe de explorar e descobrir. Mas como se faz o uso deles muda sua “categoria”, a presença de um adulto, que faz a mediação da criança com o jogo e com algum tipo de aprendizagem o torna educativo. Dessa forma o brinquedo educativo pode assumir um papel importante fora da escola, o papel de aproximação dos pais com seus filhos. Não só de aproximação, mas também pode promover a participação dos pais na educação. Os brinquedos educativos podem aparecer como complemento do que a criança aprende na escola se os pais participam do jogo buscando isso.

Enfim, os brinquedos podem ser educativos, mas não é esse seu objetivo principal. Eles não podem aparecer como suporte da educação, mas sim como prazer e diversão. Brougère fala sobre a ludicidade dos brinquedos. Para as crianças os brinquedos educativos são apenas brinquedos, elas não vão procurá-los para aprender. O lúdico apenas é importante para o desenvolvimento. É do lúdico que as crianças da minha turma sentem falta. Eles entraram na escola este ano, muitos têm somente 6 anos, o brincar faz parte da rotina, mas um brincar livre. O que não exclui a possibilidade da professora promover brincadeiras que busquem o desenvolvimento das crianças.


Bibliografia

BROUGÈRE, G. Brinquedos e Companhia. Será que o brinquedo é educativo? In. Brinquedo e Companhia. São Paulo: Cortez, 2003.

Texto realizado na disciplina Brinquedos e brincadeiras em Setembro/2009

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